Em meio às dificuldades relatadas pelo Banco Central (BC) com as quatro soluções de privacidade atualmente testadas no projeto piloto do Drex, o consórcio de cooperativas SFCoop criou sua própria ferramenta para garantir o sigilo das transações. A Harpo foi desenvolvida com a anuência da autoridade monetária e surge como uma quinta tentativa de resolver o maior problema enfrentado até agora pela iniciativa.
O SFCoop é um sistema formado pelas cooperativas Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred. Ele é um dos 16 consórcios da iniciativa privada escolhidos pelo BC para ajudar na construção do Drex. Na fase atual do projeto, o SFCoop está responsável pelos testes do caso de uso de transações com imóveis tokenizados ao lado do Banco do Brasil (BB), da Caixa Econômica Federal e do Operador Nacional do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis (ONR).
Durante a etapa atual, os casos de uso serão testados junto com as soluções de privacidade, já que nenhuma conseguiu resolver todos os requisitos impostos pelo BC na primeira fase. As ferramentas de privacidade testadas até agora foram Zether (J.P. Morgan), Starlight (EY) e Rayls (Parfin). Foi introduzida posteriormente para os testes da segunda fase a ZKP Nova, da Microsoft. O BC deixou aberta a possibilidade de cada consórcio escolher a solução que preferir para testar no seu caso de uso.
No relatório sobre a primeira fase, o BC afirmou que as soluções, apesar de garantirem a privacidade das transações para que um banco não pudesse ver o que os clientes do outro estavam fazendo, não permitia que a autoridade monetária tivesse a visibilidade sobre essas transações e pudesse reverter operações em caso de pedido judicial para isso. A complexidade ou a falta de escalabilidade de algumas das ferramentas também foram citadas como obstáculos para a escolha de alguma que melhor atendesse aos requisitos do Drex.
Segundo Márcio Alexandre, superintendente de governança e arquitetura de TI do SFCoop, a Harpo foi desenvolvida desde dezembro de 2023 e funciona em um modelo de código aberto. A ideia de criar uma solução de privacidade própria e aberta em vez de aproveitar as já existentes, que estão implementando atualizações para se adequarem aos requisitos do BC, veio da filosofia de que o Drex não deveria depender de empresas fornecedoras. “Não deveria ser um caminho nos tornarmos dependentes de um fornecedor, que pode mudar os termos do negócio”, avalia.
Alexandre diz ainda que a Harpo focou na simplicidade de funcionar com contratos inteligentes implementados na rede sem que os consórcios precisem instalar nada. “O mercado financeiro não é só quem está participando do Drex. As fintechs vão ficar de fora? Elas teriam dificuldade de participar caso usemos algo muito complexo”, argumenta.
Por enquanto, o caso de uso das transações com imóveis, no qual o SFCoop está diretamente envolvido, será o único a testar a Harpo para anonimizar transações, mas o consórcio diz que informalmente foi procurado por outras instituições financeiras para entender como funciona a ferramenta.