Sinop, 24/04/2025 06:47

Morre aos 88 anos o jornalista Matías Molina, mestre no ofício da informação | Brasil

Considerado como mentor por uma geração de jornalistas de economia, Matías Martínez Molina morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, em São Paulo. Historiador por formação, teve grande parte de sua trajetória profissional ligada à “Gazeta Mercantil”, jornal de economia onde trabalhou durante 29 anos, ocupando os cargos de diretor editorial, editor-chefe, secretário-geral, correspondente em Londres, editor de finanças e de internacional.

Em passagem pela Editora Abril, na década de 60, atuou como editor-chefe do grupo de revistas técnicas. Lá, fundou e foi o primeiro editor da revista “Exame”. Na “Folha de S.Paulo”, foi editor de economia e redator de internacional. Também esteve na CDN Análise e Tendências como diretor de análise internacional.

Quando completou 75 anos, em 2012, teve seu perfil traçado por vários autores — em sua maioria amigos e jornalistas que ele orientou profissionalmente — no livro “Matías M. Molina – O ofício da informação”, editado por seu filho Maurício L. Martínez.

Dos relatos emerge a figura do editor rigoroso, com espírito professoral. Exigente, não poupava repórteres e editores de suas críticas a textos que considerava mal apurados ou mal escritos. Seu amplo repertório em diversas áreas, o caráter solidário e a fala atropelada pela velocidade e por seu forte sotaque espanhol permeiam os textos e algumas histórias folclóricas que protagonizou.

Quando tinha dúvidas sobre algum ponto dos textos, Molina costumava ligar para quem assinava a matéria e pedir que checasse a informação imprecisa — o que implicou vários telefonemas feitos no meio da noite para as fontes. O horário não tinha importância frente à necessidade de exatidão. Costumava ligar para um bar vizinho da redação da “Gazeta Mercantil”, no centro de São Paulo, para perguntar se o repórter que não havia encontrado em casa para esclarecer um ponto do texto estava lá.

Molina não gostava de entrevistas feitas por telefone, tinha aversão a adjetivos desnecessários e não se conformava com dados imprecisos. Ouvir a outra parte, mesmo que fosse um concorrente, era essencial. Clareza era fundamental, assim como contextualização.

“Não escreva difícil, conte. Escreva uma carta a um amigo”, disse para a jornalista Ângela Bittencourt. “Seja os olhos do leitor”, aconselhou a Cynthia Malta, sua companheira havia mais de uma década, quando ela era correspondente da “Gazeta” em Nova York e se viu na incumbência de relatar o traumático 11 de Setembro.

“Molina era tão minucioso ao pedir uma matéria que, quando era editor, às vezes chegava a escrever à mão, em laudas, o roteiro que o repórter deveria seguir”, conta Célia de Gouvêa Franco, autora de “Gazeta Mercantil – A trajetória do maior jornal de economia do país” (Editora Contexto, 2024).

Daniela Chiaretti, hoje repórter especial de ambiente no Valor, foi a primeira de uma leva de estagiários a trabalhar na “Gazeta” no início dos anos 1980 e lembra que Molina era capaz de sempre identificar alguma falha na reportagem. “Ele sempre fazia uma pergunta que você não sabia responder, mas não me lembro de uma pergunta que não fosse pertinente.”

Infância difícil em Madri

Caçula entre seis irmãos, Molina nasceu em Madri em meio à Guerra Civil Espanhola, em 25 de julho de 1937. Teve uma infância difícil: aos seis anos, após a morte do pai, foi colocado pela mãe no Colegio de La Paloma, dedicado a órfãos, nos arredores da capital espanhola. Aos 12 anos conseguiu uma bolsa de estudos que o ajudou a cobrir os gastos básicos e seguir com a educação formal.

Chegou ao Brasil com a mãe, em 1955, acompanhando um movimento da família que, no início da década, começou a buscar na América Latina um lugar melhor para viver.

Em 1970, naturalizou-se brasileiro — exigência legal para quem fosse jornalista no país durante a ditadura militar.

Embora tenha manifestado desde os 14 anos o desejo de ser jornalista, acabou cursando história na Universidade de São Paulo (USP). As aulas no período noturno eram compatíveis com seus horários de trabalho. Estudava línguas também. Foi na Cultura Inglesa que conheceu sua primeira mulher, Elisabeth, com quem teve dois filhos.

Antes de chegar à “Folha de S.Paulo”, em 1964, Molina foi correspondente do jornal portenho “El Mundo” e redator em uma das primeiras revistas de negócios no Brasil, “Direção”. No diário paulistano teve contato com Cláudio Abramo, que considerava como seu grande mestre. Lá também conheceu Roberto Müller Filho, que viria a cruzar sua trajetória várias vezes, conforme conta em uma curta biografia que escreveu para o livro do jornalista Hilton Hida, hoje editor do caderno Eu& do Valor.

Müller — que morreu aos 82 anos em 4 de junho de 2024 — é considerado um ponto de inflexão no jornalismo econômico. Os princípios e critérios que ele e sua equipe (da qual Molina fazia parte) adotaram a partir de 1974 na “Gazeta Mercantil” moldaram a cobertura de economia, empresas e finanças em outras publicações especializadas, como o próprio Valor, idealizado pelo jornalista Celso Pinto, que Molina conheceu nos anos 70 na “Folha de S.Paulo” e ao lado de quem esteve em vários momentos de sua trajetória profissional.

O prestígio editorial conquistado ao longo de três décadas, porém, não foi acompanhado pelos resultados da “Gazeta Mercantil”, que se endividou e sucumbiu aos problemas financeiros e administrativos. Ao lado do amigo Muller, Molina lutou sem êxito para salvar o jornal. A última edição circulou em 29 de maio de 2009.

Ávido leitor, amante do cinema e das artes plásticas, Molina condensou seu amplo conhecimento da imprensa em dois livros: “Os melhores jornais do mundo” (Editora Globo, 2008) e “História dos jornais no Brasil” (Companhia das Letras, 2015). São obras de fôlego, com 680 e 560 páginas, respectivamente.

O velório de Matías Martínez Molina ocorre a partir de 14h de terça-feira (22) no cemitério Morumby, na capital paulista. O sepultamento está marcado para as 16h no mesmo local.

Deixa a mulher, Cynthia Malta, os filhos José Victor Longo Martínez e Maurício L. Martínez e um amplo grupo de amigos e jornalistas a quem ensinou o ofício da informação.

Matías Martínez Molina, mentor de uma geração de jornalistas de economia, morreu nesta segunda-feira (21) aos 88 anos — Foto: Fernando Donasci/Agência O Globo

Clique aqui para acessar a Fonte da Notícia

VEJA MAIS

Alívio na guerra comercial anima mercados e dólar cai frente ao real; ouça análise

No morning call de hoje, a economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito, destaca que o otimismo…

Força Tática prende homem por tráfico de drogas em Alto Paraguai/MT

Foto: Reprodução Leonardo Raimundi/PowerMix Alto Paraguai/MT A Força Tática prendeu um homem, por tráfico de…

VÍDEO: Governo não vai interferir na gestão do Einstein, diz Mauro

Lucas Rodrigues | Secom-MT Lucas Rodrigues | Secom-MT O governador Mauro Mendes (União) afirmou que…