Sinop, 09/08/2025 07:00

Míriam Leitão defende democracia e inclusão em posse na ABL | Brasil

A jornalista e escritora Míriam Leitão tomou posse na cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL) na noite desta sexta-feira (8), em cerimônia na sede da instituição, no centro do Rio. Décima-segunda mulher a ingressar na casa (e a quinta do atual quadro de acadêmicos), Míriam entrou no Salão Nobre da ABL acompanhada de três acadêmicas: Fernanda Montenegro, Rosiska Darcy e Lilia Schwarcz. Em seu discurso, ela destacou a importância da inclusão e da representatividade.

“Sei que há deveres aos quais eu me dedicarei nos próximos anos da minha vida, nesta instituição, que está em momento tão interessante e desafiador. Ao mesmo tempo em que preserva seu legado institucional, ela se renova”, declarou a jornalista de 72 anos, que sucede o cineasta Cacá Diegues, morto em fevereiro deste ano.

O discurso de Míriam está em sintonia com uma nova ABL, que nos últimos anos se esforça para se tornar mais plural e diversa. No ano passado, empossou o primeiro indígena da instituição, o filósofo e ativista ambiental Aílton Krenak. No mês passado, elegeu sua primeira mulher negra, a romancista Ana Maria Gonçalves.

Míriam comparou a função dos acadêmicos à de “guardiãs e guardiões”, mas ressaltou que uma nova história da casa vem sendo escrita por “pessoas de todos os recantos e origens”.

“Merecer os que vieram antes de nós é sobretudo procurar cada vez mais fazer dela um centro plural do pensamento brasileiro, no qual esse país diverso, negro, branco, indígena, multilíngue, construído por homens e mulheres das mais diversas origens e de todas as regiões se veja, se reconheça”, discursou a acadêmica. “E o nome da nova ordem é inclusão.”

Da ditadura à redemocratização

Nascida em Caratinga (MG), em 1953, Míriam tem uma carreira consolidada no jornalismo. Iniciou sua trajetória profissional em Vitória, no Espírito Santo, e passou por veículos como “Gazeta Mercantil”, “Jornal do Brasil”, “Veja” e “O Estado de S. Paulo”. Atualmente, é colunista de “O Globo”, comentarista do Bom Dia Brasil, GloboNews, CBN e âncora do programa de entrevistas GloboNews Míriam Leitão. Ela foi pioneira ao tornar a cobertura de economia mais acessível para o público leigo.

Nas últimas cinco décadas, acompanhou de perto planos econômicos, crises sucessivas, o impeachment de Collor e o de Dilma, e a redemocratização.

Presa e torturada aos 19 anos durante a ditadura militar, a jornalista tem sido uma voz consistente em defesa da democracia e da liberdade de expressão — uma postura que lhe rendeu, no ano passado, o Troféu Juca Pato de 2024, concedido pela União Brasileira de Escritores (UBE) ao intelectual do ano.

Em seu discurso de posse na ABL, alertou que a democracia é “o valor maior a defender”. E citou Hannah Arendt: “Quem não se mobiliza quando a liberdade está sob ameaça, jamais se mobilizará por coisa alguma”.

“Sem ela, nenhum outro avanço é possível”, complementou Míriam. “Neste tempo sombrio em que quase a perdemos, e em que as intimidações autoritárias permanecem sobre nós, é preciso refletir sobre o nosso papel na proteção da democracia. Os intelectuais não são espectadores nessa luta. Escolhem um lado.”

“Patrimônio natural sob ataque”

Como escritora, Míriam Leitão publicou 16 livros, explorando diversos gêneros como não ficção, crônicas, romance, livros infantis, e venceu duas vezes o Prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira. Seu romance “Tempos extremos”, que entrelaça ditadura militar e escravidão, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura em 2015.

No ano passado, Míriam lançou “Amazônia na encruzilhada: o poder da destruição e o tempo das possibilidades” (Intrínseca), um panorama da situação atual da Região Amazônica e das perspectivas de uma conciliação entre a preservação ambiental e a exploração econômica.

O meio ambiente teve destaque no discurso da nova imortal, para quem a natureza “protege o Brasil”: “Precisamos de todos os nossos biomas, e eles dependem uns dos outros”, alertou Míriam. “O Brasil é o país com a maior biodiversidade do planeta. Porém, nosso patrimônio natural está sob ataque. Diário, incessante, dos que ainda hoje mantêm a obsoleta visão de que proteção ambiental impede o desenvolvimento.”

O interesse pelo tema da inclusão também aparece em suas obras infanto-juvenis. Seu último livro do segmento, “Lulli, a gata aventureira”, conta a história real de uma menina portadora de uma síndrome rara, chamada Cri-du-Chat (também conhecida como Síndrome do Miado de Gato). Outras obras trazem suas preocupações ambientais, como “A perigosa vida dos passarinhos pequenos” (2013), “O mistério do pau oco” (2018) e “As aventuras no tempo” (2019).

O presidente da ABL, Merval Pereira, falou a “O Globo” sobre a chegada de Míriam à instituição: “Míriam Leitão tem todas as qualificações para estar entre nós, não é apenas uma especialista em economia, tem um espectro muito amplo de interesses: causa indígena, dos negros, e aqui estamos na mesma sintonia. Além disso, é feminina e feminista. Estamos precisando aumentar nossa representação feminina e Míriam vem em boa hora”, disse.

A nova imortal foi recebida pelo acadêmico Antonio Carlos Secchin, que, em seu discurso, também ressaltou a defesa da democracia e a independência intelectual da colega de fardão.

“A cadeira, cujos ocupantes terão daqui a pouco suas trajetórias belamente escritas por Míriam, é, como todas as outras 39, saudavelmente plural”, disse Secchin. “Isso não impede, contudo, que possamos identificar em muitos de seus ocupantes um traço unificador: a preocupação com as injustiças sociais do país. Une a todos a atenção especial à grande parcela da população marginalizada, excluída, silenciada, cujo direito à voz é um imperativo ético e uma demanda permanente de reparação histórica.”

Presente na posse, o jornalista e escritor Edney Silvestre é outro que destaca a coragem de Míriam Leitão. “Com ela, a Academia ganha uma mulher destemida, sem medo de expressar opiniões controversas, sempre em busca da coerência neste nosso país tão incoerente, que a Miriam me ajuda a compreender”, diz o autor de “Vidas provisórias”.

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