Ouvidos na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte Público de Campo Grande, nesta quarta-feira (2), os professores Jurandir Fernando Ribeiro Fernandes e Maria Lúcia Torrecilha apontaram melhorias que podem ser feitas para aprimorar o sistema viário público da capital.
Para os especialistas, que são referência em mobilidade e desenvolvimento urbano, investir no transporte público não é um simples custo, mas um investimento que melhora a qualidade de vida dos moradores e também traz benefícios para a economia.
Mais conforto para o passageiro
Primeiro a ser ouvido nesta tarde, Jurandir destacou que uma rede eficiente passa pelo conforto dos usuários. Nesse contexto, o ar-condicionado se faz indispensável.
Engenheiro mecânico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Jurandir é mestre pela Unicamp e, atualmente, professor sênior da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Fernandes também é ex-secretário dos secretários dos transportes metropolitanos de São Paulo.
“O ar-condicionado não é luxo, ar-condicionado é um conforto necessário. Por sinal, o ar, quando foi introduzido nos países quentes, aumentou a eficiência do trabalho, aumentou a criatividade, aumentou a disposição para o trabalho também.”
Jurandir Fernando Ribeiro Fernandes.
Jurandir defendeu que melhorias no transporte público podem ajudar a diminuir a superlotação de veículos nas ruas, especialmente no Centro. Para isso, contudo, é necessária uma reestruturação generalizada, com aumento de ciclovias, vias exclusivas para ônibus e, claro, uma boa frota, para que o cidadão possa ver o transporte público como a melhor forma de transitar pela cidade.
Na opinião do especialista, romper o contrato com o Consórcio Guaicurus não vai resolver as deficiências do sistema em Campo Grande do dia para a noite. Prefeitura e consórcio devem chegar a um consenso para resolver as queixas de má prestação do serviço, sem prejudicar ainda mais os usuários.
“Para resolver o problema, é possível encontrar uma saída que não penalize A, B ou C. Eu acho que o sistema é muito mais complexo (…) O que é necessário é um recalibro econômico sem afetar a capacidade financeira da população, mantendo essa tarifa de R$ 4,95, verificando junto a alguns públicos o que pode ser feito para salvaguardar a empresa.”
Jurandir Fernando Ribeiro Fernandes.
Melhorias na infraestrutura também são imprescindíveis para aumentar a eficiência do serviço, opinou o especialista. Entre elas, estaria aumentar a velocidade média dos ônibus de 17 km/h para 25 km/h, criar mais faixas exclusivas para ônibus e instalar semáforos inteligentes. Conforme Jurandir, o sistema precisa se adaptar às novas tecnologias para não perder ainda mais usuários.
“Essa rigidez do sistema, inclusive no avanço da tecnologia, vai afastando o usuário, que migra para aquelas outras soluções que têm essa flexibilidade. Por exemplo, o veículo por aplicativo tem o horário que ele precisa, tem ar-condicionado. Temos que dar essa flexibilidade no contrato. Se no contrato não tiver isso, na primeira oportunidade, fazer um aditivo dando mais flexibilidade para atualizações.”
Jurandir Fernando Ribeiro Fernandes.

A segunda a ser ouvida foi a professora Maria Lúcia Torrecilha, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Maria é doutora em Geografia Humana pela USP (Universidade de São Paulo), com período de estudos na Universidade Sorbonne (Paris), e mestre em Arquitetura e Urbanismo também pela USP.
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Segundo a professora, Campo Grande precisa implantar um plano de transporte e mobilidade para organizar e melhorar o sistema viário da cidade. Ela também pontuou a má qualidade do asfalto, que impacta diretamente no funcionamento do transporte público.
“Não dá para pensar o transporte público sem especificar as condições de cada bairro (…) Estamos falando, primeiro, das condições do asfalto, que são problemas de drenagem da cidade que não são resolvidos. Temos um sistema que não prioriza as calçadas e há ainda uma prioridade pelo transporte individual. Os ônibus têm que transitar por vias arteriais e vias coletoras, cujos tamanhos, muitas vezes, não são ideais para essa função.”
Maria Lúcia Torrecilha.
Maria Lúcia também defendeu que o município incentive e dê estrutura para o uso de outros modais, como a bicicleta.
“O transporte tem que ser uma prioridade.”
Maria Lúcia Torrecilha.
A CPI do Transporte
Os depoimentos da CPI do Transporte retornam na próxima quarta-feira (9). Serão ouvidos a secretária especial de Planejamento e Parcerias Estratégicas, Catiana Sabadin; a diretora-adjunta da Agência Municipal de Transporte e Trânsito, Andréa Luiza Torres; e o secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos, Marcelo Miglioli.