Sinop, 29/03/2025 02:06

Brasil ainda pode ter seguros para riscos climáticos, diz presidente da CNseg | Rumos 2025

No ano passado o Brasil registrou três eventos climáticos extremos sem precedentes: as chuvas no Rio Grande do Sul entre abril e maio; a seca na Amazônia, com ápice em julho, e a onda de calor que atingiu o Mato Grosso em agosto, como mostrou o relatório State of the Global Climate 2024, divulgado na última terça-feira (18) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). Para Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras, a CNseg, o grande problema é que a frequência desse tipo de situação só tende a aumentar, o que coloca como pauta ainda mais urgente a asseguração dos riscos climáticos por empresas e governos. “Isso tem acontecido com maior frequência e precisamos nos preparar para isso.”

  • Acompanhe tudo sobre o evento no especial Rumos 2025

No evento Rumos 2025, organizado pelo Valor nesta segunda-feira (24), em São Paulo, o executivo destacou que “o maior problema [do Brasil] ainda é a falta de seguro” e cita, como exemplo, a situação no Rio Grande do Sul.

“Só com o evento do Rio Grande do Sul, no ano passado, estimamos uma perda econômica de R$ 100 bilhões. O setor de seguros cobriu 6 bilhões disso, apenas”, comenta. Da área agrícola gaúcha, só 6% estava coberta com seguros específicos.

“Nos últimos nove, dez anos, o Brasil teve acima de R$ 300 bilhões em perdas causadas por incidentes climáticos, 90% disso impactam a agricultura brasileira”, afirmou Oliveira.

Ele reitera que há aprendizados a serem absorvidos de lugares como a Califórnia, nos Estados Unidos, que sofreu perdas impensáveis com incêndios florestais há alguns meses.

“O setor de seguros tem a capacidade de absorver esses riscos, mas é preciso tomar cuidado com a regulação”, disse, se referindo a mudanças na regulação do Estado americano que induziram quem tinha propriedade na região a contratar seguro do governo e não de seguradoras particulares.

Ele reforça que, para o Brasil, ainda há espaço para ampliar a cobertura de seguros para riscos climáticos. “No Brasil, em particular, isso é muito viável, porque o nosso nível de risco está muito longe desses riscos da Flórida e da Califórnia.”

Oliveira acrescenta que é importante, contudo, se atentar a três elementos: gestão de risco/mitigação de risco, regulação adequada, e incentivo para que as pessoas realmente contratem seguro. Ele volta no exemplo do Rio Grande do Sul ao dizer que pouco mais de 600 propriedades rurais estavam asseguradas quando a tragédia aconteceu.

Dyogo Oliveira, que foi ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão do governo Temer, e presidente do BNDES (2018-2019), acrescenta que a infraestrutura do país também não está coberta de riscos climáticos, deixando os gastos públicos ainda mais expostos em momentos de eventos extremos, que têm se tornado mais frequentes.

“A infraestrutura do Brasil está quase sem seguro nenhum de risco climático. O governo do Brasil, em todos os níveis, não contrata nada de seguro”, afirma. Isso significa, para ele, assumir um grande risco fiscal para si, ao considerar que os eventos climáticos já estão acontecendo e certamente vão acontecer.

“No Brasil ainda estamos em um momento de tratar disso de maneira adequada e cobrir o ‘gap’ [buraco] de proteção que temos, desenvolver seguros para cobrir esses gaps, como o rural”, comenta Oliveira.

“Só com o evento do Rio Grande do Sul, no ano passado, estimamos uma perda econômica de R$ 100 bilhões. O setor de seguros cobriu 6 bilhões disso, apenas”, comenta Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras, a CNseg, em painel do Rumos 2025, organizado pelo “Valor”, em São Paulo — Foto: Rogério Vieira / Valor

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