O Brasil subiu quatro colocações na nova edição do ranking de competitividade digital elaborado pelo International Institute for Management Development (IMD), da Suíça. O país passa a ocupar o 53º lugar, com 51,63 pontos.
A alta ocorreu em meio à melhora nas três principais categorias avaliadas no World Competitiveness Center (WCC): em Tecnologia, subiu dois degraus e alcançou a 58ª posição. Em Conhecimento, passou ao 56º lugar e, e em Prontidão Para o Futuro, chegou à 50ª colocação.
O ranking do WCC, que é feito em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), é dominado pela Suíça, com 100 pontos, que desbancou Singapura, agora terceiro colocada. Estados Unidos (2º), Hong Kong (4º) e Dinamarca (5º) completam o top 5. Na América Latina, o Brasil ficou abaixo apenas de Porto Rico (37º), com 69,35 pontos, e o Chile (43º), com 64,63 pontos. A Venezuela está na última posição entre países pesquisados, com 20,49 pontos.
Entre as subcategorias, o Brasil se destacou em Produtividade de publicações por pesquisas (9º); Investimentos privados em inteligência artificial (IA) (16º); Número de robôs em educação e P&D (17º); Uso de serviços públicos online pela população (19º) e Uso de smartphone (19º).
Por outro lado, entre os quesitos que o país se mostrou mais atrasado, estão a Prática de transferência de conhecimento (65º); Disponibilidade de Capital de Risco (64º); Experiência Internacional (64º); Gestão das cidades (64º) e Pessoal estrangeiro altamente qualificado (63%).
Segundo Hugo Tadeu, diretor do núcleo de inovação e tecnologia digitais na FDC, os 10 países mais bem colocados têm uma estratégia comum, que passa por investir na educação de base com foco em melhorar sua colocação no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, na sigla em inglês), especialmente em matemática, línguas e raciocínio lógico. Além disso, as suas empresas têm alta disposição em proporcionar treinamento e capacitação a seus funcionários. A subcategoria “talento”, inclusive, é a que o Brasil se sai pior, amargando a penúltima colocação do ranking.
Outro ponto importante da agenda comum do top 10 é aproximar a indústria das universidades para que a geração de conhecimento possa se transformar em patentes e novas tecnologias. “Esse é um aspecto importante, porque em solo brasileiro a gente ainda teima com um modelo em que os professores são 100% mensurados pela quantidade de papers e não pelo que essa produção se traduz em riqueza. É um desafio cultural e de modelo de universidade”, critica.
Um último ponto comum aos mais bem colocados é a busca de liderança tecnológica e de infraestrutura necessária para abrigar as novas tecnologias, como redes de energia para alimentar servidores e data centers. E também criar um ambiente regulatório que permita a atração da estrutura de IA e de outros investimentos de risco.
De acordo com Tadeu, o país tem apresentado melhora principalmente na aquisição de recursos e infraestrutura comprados majoritariamente dos Estados Unidos e China, e na prontidão para o futuro. Ele dá como exemplo iniciativas como o Plano Brasileiro para a IA (PBIA), que prevê R$ 23,03 bilhões a serem gastos até 2028. Destes, a maior parte foi alocada para inovação empresarial (R$ 13,79 bilhões), mas também capacitação em IA (R$ 1,15 bilhão) e infraestrutura e desenvolvimento (R$ 5,79 bilhões) – aí incluso o projeto de desenvolver sua própria ferramenta de IA.
Grande parte desses recursos, no entanto, está nas mãos de agências de financiamento, algo que pode gerar entraves, diz Tadeu . “O gargalo que a gente sempre observa é o tradicional descasamento, até ideológico, entre a pauta da iniciativa privada – que têm uma agenda de retornos sobre capital empregado de curtíssimo prazo – e a pauta das universidades, que querem discutir pesquisa de longo prazo, os impactos sobre geração de conhecimento”, diz. Em meio ao descasamento, as agências acabam dando mais dinheiro do que deveriam para “essa pesquisa que não necessariamente vira riqueza” ou para algumas poucas empresas adquirirem infraestrutura, critica.
Um último ponto que a edição de 2025 destaca é como as tensões econômicas e geopolíticas estão impactando as estratégias digitais das empresas. Entre os respondentes, 51,6% disseram que o facilidade de acesso e expansão dos mercados é característica importante na hora de decidir seus investimentos – à frente de acesso à tecnologia (42%) e ambiente regulatório (32%).
“Isso deixa claro que a expansão dos investimentos em tecnologia e pesquisa e desenvolvimento tem relação direta com o ambiente macroeconômico”, afirma Tadeu. Ele salienta, porém, que o alto patamar da taxa Selic não é o principal impeditivo para o caso brasileiro na questão do financiamento.
“A Selic é inibidora, mas não é determinante da falta de investimento. Quando olhamos as respostas das empresas brasileiras, o problema mais citado para a atração de capital de risco é a instabilidade regulatória. Aqui tudo muda o tempo todo”, pondera. “ E essa é uma resposta é algo que não é vale apenas no setor de tecnologia.”