Sinop, 16/09/2025 18:46

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Crítica | O Agente Secreto – Kleber Mendonça Filho Alcança Seu Melhor em Potente Filme de Roteiro Refinado

O Agente Secreto’ não é só o filme do momento, nem é só o representante do Brasil na categoria de Filme Internacional no Oscar 2026. ‘O Agente Secreto’ é uma mobilização social, que tem engajado, principalmente, o público jovem, atento às redes sociais e que, desde maio, quando da exibição do filme em Cannes, vem seguindo de pertinho cada passo da produção. Agora, em território nacional, o filme faz suas pré-estreias em diversas capitais e festivais do país, até o dia da sua estreia oficial, em 6 de novembro. Nós já vimos ‘O Agente Secreto’ e é tudo isso mesmo – mas por motivos diferentes dos quais você imagina.

Pernambuco, 1977. Um homem dirige um carro no interior em direção à capital. É Marcelo (Wagner Moura), que busca abrigo na casa de Sebastiana (Tânia Maria). Uma vez lá, Marcelo encontra trabalho numa repartição que emite carteiras de identidade e ele busca se reaproximar do filho, que ficou morando com os avós enquanto ele estivera ausente. Porém, enquanto Marcelo vai se ambientando na cidade, recebe notícias de que está sendo procurado por dois matadores de aluguel (Augusto [Roney Villela] e Bobbi [Gabriel Leone]). A partir de agora, todo passo seu precisa ser calculado, numa questão de vida e morte.

As mais de duas horas e vinte de duração podem assustar inicialmente, mas, ao final, a sensação que fica é que precisávamos de um pouco mais. Um pouco mais de tempo com aqueles personagens, com aqueles fatos, com aquela cidade, com aquela época. Porque Kleber Mendonça Filho faz de seu filme um recorte de um tempo que é ficção mas também é realidade, e o faz de uma maneira brilhantemente refinada que só os pacientes se dispõem a fazê-lo.

E é aí que vem a grande questão do filme: ele não termina em si mesmo. É preciso ter referências externas (de tempo, de espaço, e, acima de tudo, de Recife), e isso pode ser solucionado caso o espectador conheça e acompanhe o trabalho do diretor ou seja morador local. Do contrário, algumas informações cruciais se perdem no longa, pois elas não são explicadas embora apareçam com recorrência. Exemplo disso é a tal “perna cabeluda” (aliás, utilizada até mesmo no marketing do filme), que não é uma mera notícia de jornal dos anos 70 mas sim uma referência local à forma como episódios de violência policial eram noticiados nos jornais. Algo que provavelmente só sabe quem viveu naquele lugar, naquela época.

Ainda assim, o mais impressionante em ‘O Agente Secreto’ é, sim, o seu roteiro, a forma refinada com que Kleber parece ter tecido cada cena, cada elemento. Nada é gratuito, mesmo que não explicado. As milhares de horas que Kleber dedicou observando sua cidade (seu esplendor, suas mazelas, seus defeitos, seus cheiros, suas cores, suas vibrações) ao longo de sua vida estão lá, em cada detalhe, desde o plano escolhido para uma tomada aberta até mesmo os famosos ataques de tubarão, tão comuns naquela parte litorânea do país. Há de tudo um pouco recifense no filme, e o espectador precisa decupar frame a frame para revelar todas as camadas de referências culturais que a produção expõe.

É total verdade que Wagner Moura tem o molho, mas, mesmo sendo o protagonista, Marcelo é apenas um vetor nessa história onde tantos personagens e eventos se cruzam num trágico carnaval de 1977. Observador e reticente, Marcelo é um cara que se reserva, tateia o espaço, de modo que são os outros personagens com os quais contracena que crescem na tela e se destacam. E aqui é inevitável falar de Tânia Maria, veterana atriz potiguar do interior do Rio Grande do Norte a quem a revista Variety resolveu incluir entre possíveis nomeações como Atriz Coadjuvante. Independente desse posicionamento da revista, fato é que Tânia Maria é um sol em tela, e ela não rouba o holofote não: é que seu brilho é tão intenso e tão natural, que todos os outros tendem a admirá-la. Seu humor perspicaz, seu timing perfeito, seu acolhimento sem esforço transformam Sebastiana numa personagem que parece com nossa avó, nossa mãe, nossa vizinha. Todo mundo conhece uma Sebastiana, em todas as suas camadas. Aliás, o mundo só é um lugar melhor por causa de Sebastianas que fazem o que que a personagem de Tânia faz. Essa identificação com um personagem tão genuinamente brasileiro, com o qual nós nos relacionamos, torna esta a melhor personagem do filme.

Mas tem muito mais gente nesse elenco, cada um brilhando à sua forma, desde Isabél Zuaa genuinamente falando como uma angolana ao carismático Carlos Francisco, passando por Maria Fernanda Cândido, Thomas Aquino, Buda Lira, Udo Kier e à intensa Alice Carvalho, com pouca porém explosiva cena que leva o público à catarse coletiva.

Mas são os aspectos técnicos da produção que nos tiram o fôlego. A direção de arte de Thales Junqueira é um assombro que coloca o espectador de volta aos anos 70 com tamanho arrebate, que mesmo os jovens seguidores de KMF conseguirão experenciar a vivência setentista. A trilha sonora (outro refinamento do diretor) resgata e evidencia pérolas da música brasileira que embalam o enredo de maneira influente e precisa. Há sintonia e coesão entre os departamentos, todos em sincronia em prol do filme – e isso é algo lindo e raro de se ver.

O Agente Secreto’ se diz um thriller político, mas é um drama, um filme sobre memória – de hoje e do futuro. Ao propor um filme de época sem tratar de um episódio específico, Kleber tece cuidadosamente o fio da memória prestando grande serviço não só ao cinema, mas ao país, evidenciando a importância da investigação e dos pesquisadores para que esses eventos e personagens, ainda que fictícios, não sejam esquecidos nem hoje nem no futuro.

O Agente Secreto’ é o grande filme da carreira de Kleber Mendonça Filho. Tudo se encaminhou até hoje para chegarmos até aqui. Em muitos aspectos, será insuperável. Mas o público irá gostar do filme pelos motivos mais inesperados, diferentes do que anda sendo propagandeado – e essa é a grande magia de se ir ao cinema. Mais que um filme, ‘O Agente Secreto’ é uma tese de pesquisa, com muitos capítulos, e que precisam ser estudados e decupados inúmeras vezes, pois, de primeira, a gente não se resolve com ele.

Para ver e rever sem moderação.

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