O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, reafirmou neste domingo a intenção de prosseguir com a guerra na Faixa de Gaza diante da recusa do Hamas de se render. A fala ocorre em meio a uma onda de indignação com as cenas de fome no território palestino e a despeito da pressão internacional por um cessar-fogo.
“Dada a recusa do Hamas de abaixar as armas, Israel não tem outra alternativa a não ser terminar o trabalho e derrotar o Hamas”, afirmou o premiê, acrescentando que a facção ainda teria “milhares de terroristas armados”. “Nosso objetivo não é ocupar Gaza, é libertar Gaza, libertá-la do terrorismo do Hamas.”
O anúncio chocou ativistas e organizações de direitos humanos que apontam para violações em série no território. No final de julho, duas das principais ONGs de direitos humanos de Israel afirmaram que o país comete genocídio em Gaza — acusação que Tel Aviv nega.
Uma das acusações mais comuns é em relação à restrição de ajuda humanitária que o Estado judeu impõe ao território. Neste domingo, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou que cinco pessoas morreram de fome no território, elevando o número de mortos por desnutrição desde o início da guerra a 217, incluindo 100 crianças.
Até agora, mais de 61 mil pessoas foram mortas por Israel durante o conflito, de acordo com a Defesa Civil de Gaza, que registrou também 27 mortos neste domingo, incluindo 11 a tiros enquanto aguardavam distribuição de alimentos.
Os planos não causaram alarde apenas em ONGs e ativistas pró-Palestina, no entanto. O anúncio também foi mal recebido pelas famílias dos reféns, que veem a ideia como uma sentença de morte para seus parentes, nas mãos do grupo terrorista desde outubro de 2023.
Na última semana, relatos na imprensa israelense mostraram divergências entre o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, e o chefe do Exército, Eyal Zamir, que considera o plano uma armadilha que colocaria os sequestrados em perigo. O Hamas, por sua vez, alertou que a nova ofensiva terminaria com o “sacrifício” dos reféns.
“O gabinete decidiu o destino dos reféns: os vivos serão mortos e os mortos desaparecerão para sempre”, afirmou Einav Zangauker, mãe de um dos sequestrados que ganhou notoriedade na mobilização das famílias. “Se os reféns forem mortos, nós os caçaremos. Nas praças, durante as campanhas eleitorais, em todos os momentos e em todos os lugares”, disse sobre o premiê Shahar Mor Zahiro, sobrinho de um refém assassinado.
A extrema direita israelense, por sua vez, critica Netanyahu, mas por não ir além da Cidade de Gaza. “A vitória é possível. Quero toda a Faixa de Gaza, a transferência [de sua população] e a colonização”, disse o ministro da Segurança Nacional de Netanyahu, o extremista Itamar Ben-Gvir.
Já o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, um dos mais radicais membros do gabinete de Netanyahu, disse que o premiê “se rendeu aos fracos”. “Eles decidiram repetir a mesma abordagem mais uma vez, lançando uma operação militar que não busca uma resolução decisiva, mas simplesmente pressionar o Hamas a chegar a um acordo parcial sobre os reféns”, disse.
O líder da oposição, Yair Lapid, por sua vez, também criticou o plano, mas por outras razões. “Eles vão mobilizar 430 mil reservistas no último minuto. Eles estão desmantelando o país por dentro”, afirmou à imprensa neste domingo.