‘É maquiagem’, diz sindicato sobre promessa de gasolina mais barata com mais etanol

A partir de 1º de agosto, a composição dos combustíveis no Brasil vai mudar. A gasolina passará a ter 30% de etanol anidro — atualmente são 27% — e o diesel terá 15% de biodiesel, um ponto percentual a mais que a atual mistura. O anúncio foi feito pelo Conselho Nacional de Política Energética, com a promessa de reduzir emissões de poluentes, estimular o setor de biocombustíveis e ainda baratear o litro nas bombas em até R$ 0,20.

O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Mato Grosso (Sindipetróleo-MT), no entanto, contesta os efeitos positivos anunciados pelo governo. A entidade afirma que a redução no preço da gasolina será imperceptível, com impacto máximo de dois centavos por litro. No caso do diesel, a projeção é de aumento, já que o biodiesel tem custo maior que o combustível fóssil.

O sindicato também aponta que o etanol tem rendimento energético menor, o que significa que o motorista precisará abastecer mais vezes para percorrer a mesma distância. Para o consumidor, isso pode significar mais gastos no fim do mês, mesmo com preço aparente mais baixo nas bombas.

Na avaliação do Sindipetróleo, a alta carga tributária continua sendo o principal fator que encarece os combustíveis. Atualmente, os impostos representam cerca de 35% do valor final da gasolina. A entidade também critica a forma como a medida foi comunicada, considerando que houve uma expectativa exagerada em relação aos benefícios para o consumidor.

Do ponto de vista técnico, mecânicos alertam para o aumento do consumo em veículos flex e possível necessidade de mais manutenção nos motores a gasolina, devido à elevação da proporção de etanol. Caminhões e veículos a diesel também podem sentir mudanças no desempenho, dependendo da sensibilidade do sistema ao teor maior de biodiesel.

O governo federal defende a medida como parte da transição energética, com estímulo a fontes renováveis e menos poluentes. A mudança beneficia especialmente o agronegócio, responsável pela produção da cana-de-açúcar, do milho, da soja e de outras matérias-primas usadas no etanol e no biodiesel.

Apesar do discurso ambiental, o setor de combustíveis reforça que a alteração na mistura não resolve o problema do alto custo enfrentado pelos consumidores. Para o Sindipetróleo, a única forma realmente eficaz de aliviar o bolso do brasileiro seria a redução dos tributos.