Sinop, 29/03/2025 06:34

FT: Milei permite valorização do peso para controlar preços | Mundo

As importações da Argentina têm crescido rapidamente, pois o presidente do país, o libertário Javier Milei, aposta em um peso forte e em produtos estrangeiros baratos para ajudar a combater a inflação, mesmo que eles ponham pressão sobre as escassas reservas de moeda forte do país.

À medida que a Argentina se recuperou de uma recessão que enfraquecia as importações e Milei começou a abrir a economia protecionista, a entrada de produtos estrangeiros deu um salto. Segundo a agência nacional de estatísticas, ela cresceu 30% nos últimos seis meses, em comparação com o período anterior em uma base ajustada sazonalmente.

Massas italianas, pão brasileiro e manteiga uruguaia se tornaram cada vez mais visíveis nas prateleiras dos supermercados, já que os varejistas quase dobraram as importações de alimentos nos primeiros dois meses de 2025, em comparação com um ano antes. As importações de células solares aumentaram dez vezes, enquanto os agricultores quadruplicaram as compras de tratores do exterior.

A estratégia de fortalecer o peso e ao mesmo tempo relaxar as restrições para importação ajudou a domar a forte alta da inflação, mas tem seus riscos. À medida que o país gasta mais dólares no exterior e não consegue acumular reservas, ele se torna mais vulnerável a um choque de mercado externo ou a uma grande desvalorização do peso que poderia anular o avanço de Milei com relação à inflação.

A situação elevou a pressão sobre o presidente para garantir um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI) destinado a repor as reservas, o que, segundo ele, acontecerá em abril.

A força do peso se tornou um assunto tenso na política argentina e Milei ataca ferozmente os economistas que apontam riscos na sua valorização, acusando-os de serem “trapaceiros econômicos”. Vários varejistas se recusaram a falar abertamente sobre o papel do peso no aumento das importações, com a justificativa de que temiam irritar o presidente e os fabricantes locais.

Arte_SubArgen — Foto: Arte/Valor

As importações chinesas são as que crescem mais rápido — elas mais do que dobraram em fevereiro, em comparação com o mesmo mês do ano passado —, à medida que líderes empresariais visitam o país em busca de fornecedores. Antes proibidas, as compras no exterior por meio de plataformas de comércio eletrônico como o Alibaba dispararam.

“As pessoas enchem os depósitos de carga dos aeroportos de Buenos Aires com caixas”, disse Ruben Minond, proprietário da varejista de bicicletas Tienda Bike, que aumentou as compras de luzes e bolsas para bicicletas da China e planeja começar a adquirir contêineres de bicicletas.

“Hoje estou comprando mais no exterior do que localmente, porque custa menos e é muito, muito mais fácil do que costumava ser”, contou.

Os níveis de importação atuais, de US$ 5,9 bilhões em fevereiro, não são inéditos na Argentina, onde os fluxos comerciais oscilaram de maneira drástica ao longo da última década.

Mas o crescimento rápido reflete o difícil ato de equilíbrio que Milei precisa levar a cabo para conseguir uma estabilidade duradoura.

Para lidar com os objetivos — que costumam ser conflitantes — de baixar a alta inflação da Argentina e ao mesmo tempo retomar o crescimento econômico, o presidente recorreu aos rígidos controles cambiais do país.

Depois de uma grande desvalorização inicial quando tomou posse, em dezembro de 2023, Milei deixou o peso cair apenas 2% ao mês no ano passado, apesar de a inflação estar bem acima dessa taxa. Isso fortaleceu a moeda em 47% em termos reais, de acordo com a consultoria GMA Capital.

A valorização do peso reduziu as pressões sobre os preços, mas tornou os produtos nacionais muito mais caros, em termos de dólar, do que os de outros países, ao mesmo tempo em que aumentou o poder de compra dos argentinos no exterior.

Além de adquirir mais produtos importados, os argentinos têm tirado férias no exterior em números quase recordes, já que o peso forte torna as praias brasileiras e os shopping centers chilenos mais acessíveis. O país registrou seu segundo maior gasto mensal em dólar com turismo em janeiro, US$ 1,5 bilhão.

O resultado é que a Argentina tem déficits em conta corrente desde junho, enquanto seu superávit comercial de mercadorias baixou para US$ 224 milhões em fevereiro, em comparação com o US$ 1 bilhão por mês durante a maior parte de 2024.

“Este é o dano colateral da política cambial rigorosa”, disse Ramiro Blazquez Giomi, estrategista para América Latina e Caribe do grupo de serviços financeiros StoneX. “No curto prazo, o déficit em conta corrente cada vez maior pressiona a disponibilidade de dólares de que o governo precisa para manter a moeda estável [e evitar picos de inflação].”

Blazquez observou que muitas economias em desenvolvimento saudáveis têm déficits em conta corrente e na maior parte os financia com entradas de investimento estrangeiro. Mas a Argentina em crise recebe muito pouco investimento estrangeiro e não pode fazer empréstimos nos mercados de capital.

Portanto, sem um superávit em conta corrente, Milei não tem como fortalecer as reservas insignificantes do banco central que herdou, que continuam em torno de US$ 6 bilhões no vermelho, sem contar os passivos.

Mas o governo se mantém irredutível e tem cortado tarifas e eliminado regulamentações alfandegárias onerosas sobre centenas de produtos.

“Continuamos a cortar impostos e tarifas para estimular a concorrência e para seguir baixando a inflação”, disse neste mês o ministro da Economia, Luis Caputo, ao anunciar a redução das tarifas de importação para têxteis, um dos setores mais protegidos da Argentina.

Dirigentes da área da manufatura dizem que o aumento das importações forçará demissões em um setor que emprega quase um quinto dos trabalhadores do país.

Autoridades do governo argumentam que os fabricantes se beneficiam de importações de peças mais baratas e insistem em que as empresas precisam se tornar mais competitivas.

Com a proximidade das eleições cruciais de meio de mandato, previstas para outubro, Milei prometeu evitar uma grande desvalorização do peso.

Para Martín Rapetti, diretor executivo do think-tank Equilibra, haverá “um crescimento muito forte nas importações de mercadorias e um aprofundamento do déficit em conta corrente este ano” se Milei mantiver essa promessa.

“Esta é uma taxa real de câmbio alta em termos históricos… e isso, na minha opinião, é o [motor] fundamental do aumento das importações”, avaliou ele.

Mas Dante Sica, um ex-ministro da Produção de um governo de centro-direita, discorda. Ele argumentou que o crescimento das importações se estabilizará em breve, pois é principalmente um reflexo da “normalização” da demanda do consumidor e do abandono de restrições de importação incômodas por parte de Milei.

Sica previu que o rápido crescimento das exportações de petróleo e gás compensará o aumento das importações e manterá a balança comercial positiva. As exportações de petróleo e gás estão no rumo de chegar a um superávit de US$ 8 bilhões este ano, em comparação com US$ 4 bilhões no ano passado, à medida que a produção aumenta em uma vasta área de xisto na Patagônia.

“Enquanto você tiver uma balança comercial positiva, você terá fontes de financiamento”, afirmou ele. “Ainda não vejo nenhum problema de financiamento em conta corrente.”

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