Indígenas das etnias Enawenê-Nawê, Rikbatsa, Myky e Manoki protestaram, nesta sexta-feira (4), em Brasnorte, a 580 km de Cuiabá, contra a cassação do prefeito da cidade, Edelo Ferrari (União Brasil) por abuso de poder econômico nas eleições de 2024. Segundo a decisão da Justiça Eleitoral, o prefeito e aliados promoveram uma operação estruturada para cooptar votos da comunidade indígena Enawenê-Nawê.
Os manifestantes distribuíram panfletos afirmam que não venderam o voto, como o apontado na decisão judicial que cassou o prefeito, a vice-prefeita Roseli Gonçalves e do vereador Gilmar Celso Gonçalves, e que eles têm o direito de escolherem os representantes.

“Prefeito Edelo Ferrari é cacique branco do coração dos povos indígenas! Sempre ajudou e nós apoiamos o prefeito Edelo! Ele ganhou a eleição junto com os povos indígenas! Sem comprar voto!! O Vereador Gilmar é amigo branco dos indígenas! Não comprou voto! É do coração!!”, diz o panfleto.
Elizete Ukba Rikbaktsa disse que o ato é pacífico e que hoje os indígenas têm o direito de votar em quem eles querem. “Eles foram candidatos que sempre olharam para os povos indígenas e sempre nos apoiaram. Nós, indígenas, não precisamos vender o voto e somos livres como qualquer um de vocês. Por isso, estamos aqui hoje em busca de melhorias e que o prefeito permaneça na prefeitura para nos ajudar.
Eles ainda afirmam que foram desrespeitados durante audiência pública que debateu o caso.

“O juiz Romeu não escutou o que indígenas falaram na audiência! Não respeita os Indígenas! Nós temos pensamento! Nós temos ideia! Juiz não é amigo dos povos indígenas! Indígena sabe que pode votar em Brasnorte! Indígena escolhe aonde votar! Mentiu para o povo! A Promotora Roberta riu de nós na audiência! Pressiona indígena a mentir em audiência! Não respeita nossa ideia, acha que indígena é mentiroso!”, diz o panfleto.
A cassação
Edelo Ferrari foi cassado na quarta-feira (2) por decisão da Justiça Eleitoral de Mato Grosso. A sentença, assinada pelo juiz Romeu da Cunha Gomes, determinou ainda a realização de novas eleições no município e declarou a inelegibilidade de outros quatro envolvidos.

Segundo a decisão, o grupo articulou um esquema para cooptar votos da comunidade indígena Enawenê-Nawê. A operação envolveu o aliciamento de eleitores para transferência de domicílio eleitoral, transporte irregular na véspera da votação e distribuição de bens como dinheiro, combustível e frangos congelados.
As investigações apontam que mais de 100 indígenas transferiram seus títulos para Brasnorte em 2023, com despesas pagas pelos filhos do vereador Gilmar.
No dia da eleição, ônibus fretados por um servidor da prefeitura tentaram transportar os indígenas até as seções eleitorais, mas foram barrados pelo Exército. Mesmo após a proibição judicial, o servidor manteve o transporte em caminhonetes abastecidas com combustível pago por ele.
Ele recorre no cargo.
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