O inquérito conduzido pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), no âmbito da Operação Suserano, traz detalhes de um esquema que teria desviado cerca de R$ 28 milhões dos cofres públicos de Mato Grosso a partir da compra superfaturada de kits para agricultores familiares. As ferramentas foram entregues pela Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf) e Instituto Pronatur.
Apontado como principal articulador do esquema, Alessandro do Nascimento teria utilizado o nome da filha, Ana Caroline Ormond, para registrar bens e ocultar patrimônio. Embora tenha declarado renda de R$ 60 mil para financiar parte de um imóvel de alto padrão, o holerite da empresa da qual é sócia indicava pró-labore de apenas R$ 9.723,78. A Deccor apurou que, durante o período em que os pagamentos foram realizados, Ana Caroline estava fora do país.
Ela participava de um programa universitário nos Estados Unidos e trabalhava em um parque da Disney. Enquanto isso, Ana Caroline “financiava” um imóvel de alto padrão em Cuiabá.
Conforme a investigação, Alessandro era o sócio oculto da empresa Tupã Comércio e Representações supostamente de fachada, utilizando Euzenildo Ferreira da Silva como “laranja”. O superfaturamento na compra dos kits foi estimado em 80%, com um sobrepreço de aproximadamente R$ 10,2 milhões. No ano de 2024, foram empenhados R$ 31,4 milhões para a aquisição desses kits.
A investigação também apontou pagamentos antecipados pela Pronatur sem a entrega efetiva dos materiais. A Controladoria Geral do Estado (CGE) constatou diversas irregularidades, incluindo a ausência de chamamento público para a contratação e a distribuição dos kits em período eleitoral, violando a legislação eleitoral.
A CGE identificou ainda conflitos de interesse nas cotações e contratações.
Esquema sofisticado e padrão de luxo
Alessandro e sua família ostentavam um padrão de vida elevado, com viagens internacionais frequentes e imóveis de alto valor. A investigação aponta que parte desse patrimônio foi intencionalmente registrado no nome da filha, e só depois repassado ao investigado.
Além do imóvel em Cuiabá, a polícia encontrou um “Termo de Confidencialidade e Sigilo” firmado por Alessandro, sua esposa e uma empresa americana sediada na Flórida, sugerindo movimentações para fora do país com possível tentativa de ocultação de bens.
Interceptado no aeroporto

Às vésperas da deflagração da Operação Suserano, em setembro de 2024, Alessandro e a família tentaram deixar o país. De acordo com o inquérito, ele foi interceptado no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande, após embarcar em um voo diferente do da filha. A estratégia chamou a atenção dos investigadores e reforçou a suspeita de que ele buscava escapar das investigações em curso.
O celular e notebook do suposto articulador foram encontrados em uma loja no aeroporto, pertencente a uma amiga de filha. Alessandro também deixou caixas com documentos na residência de um amigo da família.
Citação de deputados
A investigação revelou anotações de Alessandro que mencionavam o envolvimento de diversos deputados estaduais no esquema, incluindo Eduardo Botelho (UB), Nininho (PSD), Dr. Eugênio (PSB), Dilmar Dal Bosco (União), Faissal Kalil (Cidadania), Carlos Avalone (PSDB), Thiago Silva (MDB), Juca do Guaraná (MDB), Claudio Ferreira (PTB), Alan Kardec (PSB), Fábio Tardin e Júlio Campos (UB).
As anotações indicavam valores pagos a esses deputados, e a Seaf confirmou a entrega de kits em cidades onde esses deputados eram candidatos ou tinham aliados políticos, sugerindo a utilização dos recursos para fins eleitorais.
O relatório final da Operação Suserano aponta fortes indícios de peculato, contratação direta ilegal e crimes eleitorais.
Os deputados negam as acusações.
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