Alta Floresta (MT) tornou-se palco de um marco inédito na conservação da fauna brasileira. Pela primeira vez no país, um macaco-aranha (gênero Ateles) foi registrado utilizando uma ponte de fauna, estrutura suspensa projetada para garantir a travessia segura de animais silvestres sobre rodovias ou áreas de vegetação fragmentada.
O flagrante foi feito por armadilhas fotográficas em uma das sete passagens já instaladas no município, situadas estrategicamente sobre clareiras e vias que cortam a vegetação nativa. Construídas com cordas e cabos de aço, as estruturas conectam as copas das árvores de um lado a outro, permitindo que espécies arborícolas atravessem sem descer ao solo, onde ficam mais vulneráveis a atropelamentos, ataques de predadores e outros riscos.
Além do macaco-aranha, outras espécies têm utilizado as pontes em Alta Floresta, entre elas o zogue-zogue-de-Alta-Floresta (Plectorocebus grovesi), também conhecido como zogue-zogue-de-Mato-Grosso. Essa espécie, endêmica da região e considerada uma das mais ameaçadas do mundo, foi registrada pela primeira vez atravessando uma das estruturas em fevereiro deste ano.
Outro frequentador notável é o sagui-de-Schneider (Mico schneideri), espécie descrita pela ciência apenas em 2021 e que ocorre exclusivamente na porção sul da Amazônia mato-grossense. De outubro de 2024 até maio de 2025, as armadilhas fotográficas já contabilizaram cerca de 4 mil travessias nas passagens instaladas no município.
De acordo com os coordenadores do projeto, os registros comprovam a eficácia das pontes na redução dos impactos da fragmentação florestal, fortalecendo a conservação de espécies ameaçadas e favorecendo a conectividade entre fragmentos de vegetação nativa.
Alta Floresta tem se destacado como exemplo de inovação e compromisso ambiental, mesmo inserida em uma das regiões mais pressionadas pelo desmatamento no país, o chamado Arco do Desmatamento. A partir de setembro deste ano, a iniciativa será ampliada com apoio da concessionária Energisa, que viabilizará a instalação de outras oito passagens em áreas com rede elétrica, visando também prevenir acidentes com a fiação.
O projeto, batizado de Reconecta, pode ainda inspirar a formulação de normas técnicas nacionais para instalação de travessias de fauna em rodovias federais. Segundo os idealizadores, a experiência de Alta Floresta já é vista como um modelo a ser replicado em outros pontos da Amazônia.
Com informações do o Eco