Sinop, 22/08/2025 15:04

Maioria das empresas ainda usa IA para facilitar tarefas da rotina | Inovação

O treinamento de um modelo de inteligência artificial (IA) para prever a estrutura de proteínas rendeu o Prêmio Nobel de Química em 2024 a dois executivos do setor de software, Demis Hassabis e John Jumper. Só Jumper tem formação como químico. O modelo, AlphaFold, permite antecipar as interações de moléculas biológicas e está ajudando na pesquisa de terapias para doenças como malária, Parkinson e leishmaniose. O avanço mostra o potencial da IA em processos de inovação.

Essa interação ocorre há mais de uma década, possibilitando o uso de grandes quantidades de dados para fazer previsões e detectar tendências, como a preferência do consumidor por produto X ou Y. Mas, até recentemente, as empresas dependiam de modelos de IA mais rígidos, com execução baseada em regras, uso de dados estruturados (como os de uma planilha), com baixa capacidade de aprendizado e resultados restritos a informações para relatórios ou orientações operacionais. Agora, os modelos de IA aprendem — e recebem aplicação em novas áreas todos os dias. “Posso interagir com um cliente artificial e ver o que ele acha. Posso simular o que uma população inteira vai querer”, diz Fabio Cozman, coordenador do Centro de Inteligência Artificial da Universidade de São Paulo (USP), o C4AI.

Assim como o AlphaFold realiza em dias o trabalho com as proteínas que durava anos, modelos de IA prometem fazer o mesmo com compostos químicos, códigos de computador e projetos de equipamentos e instalações. Eles podem reproduzir e simular o desempenho de sistemas físicos, os gêmeos digitais. A tecnologia vai multiplicar a capacidade de pesquisa e desenvolvimento das companhias, abrindo a uma era de inovação em velocidade sem precedentes, segundo o relatório Previsões de IA para os Negócios 2025, da PwC.

Rodrigo Gimenez, da Fundação Vanzolini: IA ainda precisa chegar aos conselhos — Foto: Divulgação

Num nível mais simples, softwares baseados em LLMs (grandes modelos de linguagem) podem gerar avaliações de produtos, escrever postagens para redes sociais, analisar interações com clientes e automatizar tarefas de documentação em setores altamente regulados. Mesmo sem inovação direta, o resultado é maior produtividade nas organizações — e mais recursos para investir em inovação.

No Brasil, a maior parte do mercado ainda faz uso muito modesto da tecnologia. A pesquisa TIC Domicílios, do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), aponta que, em 2024, a IA era usada em 13% das empresas, principalmente em tarefas de assistência administrativa, como redação de e-mail, ou em campanhas de marketing. A questão é crítica ante o potencial da IA. O sociólogo Glauco Arbix, especialista em inovação, é bem incisivo: logo, não vai haver possibilidade de gerar produtos, processos ou negócios novos e competitivos sem IA. Ele dá o exemplo do setor de saúde, com uso de IA para análise de radiografias, identificação de tumores ou desenvolvimento de drogas.

“Os setores em que o impacto da IA será mais relevante são aqueles com desenvolvimentos complexos, custosos e demorados”, acrescenta Marcelo Nakagawa, professor de instituições como Insper e Fundação Dom Cabral (FDC). Entre esses setores estão os de equipamentos de alta precisão, biotecnologia, química fina e governo. Mas o impacto se estende à reinvenção de setores como construção civil. “Na China, empresas automatizaram processos de concepção, planejamento e execução da obra, com uso de sistemas construtivos digitalizados, robôs e sistemas de gestão e monitoramento baseados em IA”, exemplifica.

Para Alexandre Montoro, diretor-executivo e sócio do BCG, a chegada da GenIA provocou aumento de produtividade em tarefas cotidianas, como avaliação e criação de documentos ou categorização de informações. “Agora as empresas começam a pensar em como inovar, ou se reinventar”, diz.

Alexandre Montoro, do BCG: GenIA passa agora para a segunda fase, da reinvenção — Foto: Fernando Mucci/Divulgação
Alexandre Montoro, do BCG: GenIA passa agora para a segunda fase, da reinvenção — Foto: Fernando Mucci/Divulgação

Isso já ocorre em funções como atendimento, dada a capacidade de prover experiências baseadas em mais informação e personalização do que seria possível apenas com a capacidade humana, e começa a chegar a áreas como gestão de pessoas, para funções como avaliação de candidatos ou de performance.

O próximo passo no caminho da IA, ainda incipiente, são os agentes, programados para tomar decisões e executar tarefas de forma autônoma — e com enorme potencial de transformar processos e criar inovações. Eles poderiam funcionar, por exemplo, como um colega com quem se discute caminhos de inovação.

Rodrigo Gimenez, sócio da consultoria RGCE e coordenador assistente do MBA em estratégia e inovação com aplicação de IA da Fundação Vanzolini, está desenvolvendo um projeto de doutorado que propõe a criação de um agente de IA para analisar dados internos de empresas e simular o comportamento dos concorrentes em análises estratégicas. Mas, por enquanto, a realidade é outra. “Especialistas de IA ainda não participam dos comitês de estratégia. Se não chegou ao conselho, ainda não chegou a lugar nenhum”, pondera Gimenes.

Um estudo do BCG mostra o descasamento — grande difusão de IA para lidar com burocracia e pouca para romper com velhos modelos. Em média, nos 11 países pesquisados, 72% dos funcionários dizem usar IA no trabalho. Mas só 22% das empresas estão criando novos modelos de negócios baseados em IA. “Estamos em momento de inflexão, com empresas pensado como se reinventam”, diz Montoro.

Será necessário investimento privado e público para difundir esse recurso e aumentar o número de empresas que o usam de forma mais sofisticada. Como em outras áreas sensíveis, um fluxo de capital consistente e bem direcionado tende a mostrar melhores resultados do que tentativas de elevar demais o investimento de forma repentina e a níveis insustentáveis.

O investimento em IA generativa no Brasil foi de cerca de US$ 1,85 bilhão em 2024 e deve crescer 30% neste ano, segundo o Estudo Mercado Brasileiro de Software – Panorama e Tendências 2025, apresentado no início de agosto pela Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes). Entram nessa conta infraestrutura, software e serviços relacionados a essa tecnologia. O estudo lista como destaques nas prioridades das empresas, além de IA generativa, o empenho para difundir os agentes de IA e as iniciativas para produtividade e automação habilitadas por IA.

A pesquisa da Abes é consistente com outras indicações de tendências feitas pela PwC: as empresas vão usar a tecnologia de forma mais difusa e integrada por todo o negócio; a análise do valor gerado pela IA precisará se tornar mais sistemática e transparente; os custos relacionados à tecnologia vão cair muito. Segundo a análise da PwC, 63% das companhias de alto desempenho estão expandindo seus investimentos em nuvem a fim de maximizar os benefícios da IA generativa.

Além disso, as empresas fazem bem em ficar atentas aos planos dos governos federal e estaduais para o setor e as formas de acesso a linhas específicas de investimento e financiamento. “Está sendo desenhado o programa específico para tratar de IA no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)”, diz Joana Meirelles, superintendente da área de transformação digital e responsável por ações de IA na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Virá do FNDCT boa parte dos recursos do Programa Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que prevê R$ 13,8 bilhões para inovação nas empresas até 2028.

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