O procurador-geral da República, Paulo Gonet, recomendou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a manutenção da prisão preventiva do coronel Marcelo Câmara, que foi assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro e também é réu por tentativa de golpe de Estado.
Câmara foi preso preventivamente no mês passado por uma suposta tentativa de interferência no acordo de delação premiada do coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordens de Bolsonaro.
O chefe da Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contra um recurso da defesa de Câmara, solicitando sua liberdade. A acusação está amparada em mensagens trocada entre Cid e o advogado de Câmara, Luiz Eduardo Kuntz.
Na avaliação de Gonet, “os trechos insinuam que Marcelo Costa Câmara não apenas conhecia a conversa conduzida por seu advogado, mas dela se beneficiou ao utilizá-la como argumento defensivo”.
Procurado, Kuntz disse ao Valor que está “muito preocupado” com a conduta de Gonet no caso. “É uma atuação tão desconexa com os autos de quem deveria ser o fiscal da lei. É de causar espécie”, afirmou o advogado.
Ele disse ainda que pretende aguardar o encerramento da atual fase do julgamento para apresentar um novo pedido de relaxamento da prisão de Câmara.
Marcelo Câmara negou na última quinta-feira (24) que tenha participado de um plano para monitorar e assassinar autoridades. Durante interrogatório na Primeira Turma do STF, o militar disse que acompanhava o itinerário do ministro Alexandre de Moraes para tentar aproximar o magistrado de Jair Bolsonaro.
Réu no núcleo dois da trama golpista, Câmara seria responsável, segundo a PGR, por “coordenar as ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas”.
Investigação da Polícia Federal (PF) afirma que havia um plano para assassinar Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice, Geraldo Alckmin (PSB).
“Meu nome não consta nesse plano. Não tinha contato com as pessoas que constam nesse plano. Não tenho participação nisso. Não fui a nenhuma reunião”, afirmou Câmara.
Câmara disse que nunca participou de nenhuma ação de monitoramento. “Tem uma celeuma em relação a monitoramento. Inclusive foi pedido para a gente olhar no dicionário o que é”, afirmou.
Câmara negou que tenha “monitorado” Moraes. Ele disse que colhia informações sobre o ministro do STF a pedido do tenente-coronel Mauro Cid, por uma questão de “ajuste de agendas” e para aproximar o ex-presidente de autoridades. Cid também é réu na ação e assinou acordo de delação premiada.
“Tudo isso era com a finalidade de aproximação. Isso é o que nós queríamos (…) Havia uma intenção de aproximação do presidente, e não criar nenhum constrangimento (…) Essas informações não tem profundidade a nível de um monitoramento. O Cid me perguntava e eu passava pra ele”, disse.
Em 2022, Moraes já era relator de ações contra aliados de Bolsonaro e presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ministro era alvo frequente de críticas e ataques do ex-presidente, que acusava o magistrado de perseguir seu grupo político.
Com o andamento da ação da trama golpista, também relatada por Moraes, e as informações que existem hoje, Marcelo Câmara afirma desconfiar que os dados que ele colhia podem ter sido utilizadas para outros fins.
“Eu começo a questionar se ele estava usando o que eu passei de forma diferente do que eu tinha intenção. Se alguma coisa que eu passei para o Cid aí ele usou para outra coisa que eu não esperava. Eu me sinto usado nisso aí. De uma hora para outra eu começo a perceber que eu poderia estar sendo usado. Eu realmente fico muito chateado com isso, porque não era a minha intenção”, disse.