O promotor Rinaldo Segundo, da 27ª Promotoria de Justiça Criminal de Cuiabá, apontou que Nataly Helen Martins Pereira, 25 anos, suspeita de assassinar a adolescente grávida Emelly Beatriz Azevedo Sena, 16 anos, foi tratada como um “mero objeto reprodutor” e um “recipiente” para o bebê desejado pela acusada. A informação consta na denúncia contra a investigada assinada pelo integrante do órgão ministerial.
Diferente do entendimento da Polícia Civil, que indiciou Nataly por homicídio qualificado, o promotor enquadrou o crime como feminicídio, ressaltando que a denunciada demonstrou total desprezo pela condição feminina da vítima ao planejar e executar o ataque.
As investigações revelam que Nataly atraiu Emelly com a promessa de doar roupas para o bebê, mas, ao encontrá-la, a imobilizou e a asfixiou, levando à sua morte. Em seguida, realizou uma cesárea improvisada e retirou a criança ainda viva, submetendo a adolescente a intenso sofrimento. Após o crime, ocultou o corpo enterrando-o no quintal de casa e tentou apagar rastros, usando o celular da vítima para enviar mensagens falsas à família.
A denunciada ainda foi a um hospital afirmando ter dado à luz, mas exames médicos desmentiram sua versão. Além disso, foi descoberto que ela havia falsificado um exame de gravidez para sustentar sua história.
Segundo a denúncia, Nataly desejava ter uma filha, mas, já tendo sido submetida a laqueadura, começou a buscar grávidas que esperavam bebês do sexo feminino. Foi assim que encontrou Emelly em um grupo de WhatsApp voltado à troca e doação de itens infantis, onde passou meses monitorando sua gestação até concretizar o crime.
“O ato praticado por Nataly escancara a coisificação do corpo feminino, reduzindo a vítima à sua função reprodutiva. Ela manteve contato com Emelly apenas para acompanhar o desenvolvimento do bebê e, no momento que considerou oportuno, se apropriou violentamente da criança, sem qualquer consideração pela integridade e vida da jovem mãe”, afirmou o promotor na denúncia.
O Ministério Público sustenta que a frieza e a premeditação do crime reforçam a necessidade da denúncia por feminicídio, além das demais qualificadoras já apontadas no caso.