O Senado dos Estados Unidos, controlado pelos republicanos, avançou por uma margem pequena de votos com o amplo projeto de corte de impostos e aumento de gastos do presidente Donald Trump neste sábado. A votação ocorreu durante uma sessão extraordinária marcada por drama político, divisões e longos atrasos, enquanto os democratas tentavam retardar a tramitação da proposta.
Os parlamentares votaram por 51 a 49 para abrir o debate sobre o megaprojeto de 940 páginas, com dois republicanos juntando-se aos democratas na oposição à proposta, que financiaria as principais prioridades de Trump em imigração, fronteira, cortes de impostos e defesa. Trump comemorou nas redes sociais a “grande vitória” por seu “grande, belo e maravilhoso projeto”.
Após horas de atraso, período em que líderes republicanos e o vice-presidente JD Vance negociaram a portas fechadas para convencer os últimos indecisos, os democratas exigiram que o projeto fosse lido em voz alta no plenário, o que pode adiar o início do debate até a tarde de domingo.
Os democratas afirmam que os cortes de impostos propostos beneficiariam desproporcionalmente os mais ricos, em detrimento dos programas sociais voltados às camadas de menor renda.
“Os republicanos no Senado estão correndo para aprovar um projeto radical, apresentado ao público na calada da noite, torcendo para que o povo americano não perceba o que está nele”, disse o líder democrata no Senado, Chuck Schumer. “Os democratas vão forçar esta Casa a ler o texto do início ao fim”, acrescentou.
Após a leitura, os senadores iniciarão até 20 horas de debate sobre a proposta, seguidas por uma maratona de emendas — conhecida como “vote-a-rama” — antes da votação final. Parlamentares disseram esperar concluir os trabalhos na segunda-feira.
Os senadores republicanos Thom Tillis e Rand Paul votaram contra a abertura do debate, o que chegou a colocar a votação em risco. Trump criticou Tillis, que se opôs aos cortes no programa de saúde Medicaid, alegando que seriam devastadores para a Carolina do Norte, seu estado natal. Tillis disputará a reeleição no próximo ano. “Muitas pessoas querem concorrer nas primárias contra o ‘Senador Thom’ Tillis. Me reunirei com elas nas próximas semanas”, publicou o presidente.
Paul se opôs ao projeto por elevar o teto da dívida federal — atualmente em US$ 36,2 trilhões — em mais US$ 5 trilhões. “O Rand Paul votou ‘NÃO’ de novo hoje? O que há de errado com esse cara?”, disse Trump nas redes sociais.
A votação de sábado ficou em suspenso por horas enquanto Vance, o líder da maioria no Senado John Thune e outros republicanos de peso tentavam persuadir os indecisos. Não ficou claro se houve acordos para garantir seus votos.
Os senadores republicanos linha-dura Rick Scott, Mike Lee e Cynthia Lummis, que exigiam cortes mais profundos nos gastos públicos, acabaram apoiando o projeto. Outro conservador, Ron Johnson, inicialmente votou contra, mas mudou seu voto e passou a apoiar a proposta.
Trump acompanhava a votação do Salão Oval até tarde da noite, segundo uma autoridade da Casa Branca.
O megaprojeto renovaria os cortes de impostos de 2017, vista como a principal conquista legislativa de Trump em seu primeiro mandato, cortaria outros tributos e aumentaria os gastos com defesa e segurança na fronteira.
O Comitê Conjunto de Tributação, apartidário, divulgou uma análise prevendo que as disposições fiscais do projeto reduziriam a arrecadação federal em US$ 4,5 trilhões na próxima década, ampliando a dívida pública. A Casa Branca, no entanto, afirma que a proposta reduziria o déficit anual em US$ 1,4 trilhão.
O homem mais rico do mundo, Elon Musk, também criticou o projeto, que eliminaria incentivos fiscais para veículos elétricos produzidos por sua empresa, a Tesla. Chamando o texto de “completamente insano e destrutivo”, Musk reacendeu uma rixa com Trump iniciada no início do mês, antes de suavizar o tom.
“O último rascunho do Senado destruirá milhões de empregos na América e causará imenso dano estratégico ao nosso país!”, escreveu Musk na rede X.
Republicanos de estados com populações rurais expressaram oposição à redução da receita estadual para prestadores de serviços do Medicaid, incluindo hospitais rurais. A nova versão do projeto adia essa redução e destina US$ 25 bilhões para apoiar essas instituições entre 2028 e 2032.
A proposta também aumentaria o teto das deduções federais para impostos estaduais e locais para US$ 40 mil, com ajuste anual de 1% até 2029, quando voltaria ao nível atual de US$ 10 mil. O teto começaria a diminuir para quem ganha mais de US$ 500 mil por ano.
Isso preocupa deputados republicanos de estados costeiros como Nova York, Nova Jersey e Califórnia, considerados fundamentais para manter a frágil maioria republicana na Câmara.
Os republicanos estão usando um mecanismo legislativo que permite contornar o limite de 60 votos exigido para a maioria das propostas no Senado, que tem 100 membros.
Os democratas devem concentrar suas emendas em tentar reverter os cortes em programas que oferecem assistência médica pública para idosos, pobres e pessoas com deficiência, além de ajuda alimentar para famílias de baixa renda.
O projeto também aumentaria o teto da dívida do Tesouro em trilhões de dólares para evitar um calote desastroso nos próximos meses.
Se for aprovado no Senado, o projeto retornará à Câmara dos Deputados para votação final antes de Trump poder sancioná-lo. A Câmara aprovou sua versão da proposta no mês passado.
29/06/2025 08:51:14