Sinop, 07/09/2025 19:10

Superávit de US$ 6,1 bi na balança comercial mostra força do agro

O Brasil encerrou agosto com um superávit comercial de US$ 6,133 bilhões, avanço de 35,8% em relação ao mesmo mês de 2024. O resultado foi impulsionado pelo agronegócio e pela indústria extrativa, que compensaram a forte queda nas vendas para os Estados Unidos, agora submetidas ao tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump.

As exportações totais somaram US$ 29,8 bilhões, com alta de 3,9% frente a agosto do ano passado. A agropecuária contribuiu com US$ 6,6 bilhões (+8,3%), enquanto a indústria extrativa alcançou US$ 7,2 bilhões (+11,3%). Já a indústria de transformação mostrou leve retração de 0,9%. As importações, por sua vez, caíram 2%, para US$ 23,7 bilhões, aliviando a balança.

O dado que chama mais atenção, porém, é a queda de 18,5% nas exportações para os EUA, que somaram apenas US$ 2,76 bilhões, gerando um déficit bilateral de US$ 1,23 bilhão no mês. Entre os produtos mais afetados estão minério de ferro, açúcar (-88%) e aeronaves (-84,9%).

Se por um lado a perda de mercado nos EUA preocupa, por outro, a China se consolidou como principal destino dos embarques brasileiros. Em agosto, as vendas para o país asiático avançaram quase 30%, com destaque para soja, milho, carnes e ouro, garantindo superávit de US$ 4,06 bilhões. A Argentina também apresentou recuperação, com aumento de 40,4% nas exportações brasileiras.

No acumulado de janeiro a agosto, o Brasil registra superávit de US$ 42,8 bilhões, com corrente de comércio de US$ 412,3 bilhões. O desempenho reforça a resiliência do comércio exterior brasileiro, mas deixa claro que a dependência de poucos mercados — e a fragilidade da relação com os EUA — pode se tornar um ponto crítico em meio à instabilidade política e econômica global.

O resultado de agosto mostra, mais uma vez, a força do agronegócio e da indústria extrativa como pilares da economia brasileira. No entanto, também evidencia nossa vulnerabilidade diante de decisões políticas externas, como o tarifaço imposto pelos Estados Unidos.

Na minha visão, esse episódio precisa ser entendido como um alerta estratégico. O Brasil não pode depender da boa vontade de Washington, nem aceitar passivamente que sua competitividade seja atacada por medidas arbitrárias. A reação deve vir em duas frentes:

  1. Diversificação de mercados, aprofundando laços com a Ásia, América Latina e União Europeia.
  2. Agregação de valor às exportações, reduzindo a dependência da venda de commodities brutas e ampliando a inserção internacional com produtos processados, de maior valor agregado.

O superávit de US$ 6,1 bilhões em agosto é, sem dúvida, uma vitória conjuntural. Mas se não transformarmos esse resultado em estratégia estrutural, continuaremos sujeitos a choques externos. O agro mostrou sua resiliência, mas o futuro exige mais do que resistência: exige visão de longo prazo, coragem política e protagonismo nas negociações internacionais.

Miguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

Clique aqui para acessar a Fonte da Notícia

VEJA MAIS

como fica o clima para a colheita do trigo?

Faltando praticamente um mês para o evento de Abertura Nacional da Colheita do Trigo, em…

Mutirão da Cidadania leva serviços gratuitos para moradores de Santa Carmem » Esportes & Notícias

A população de Santa Carmem (498 km de Cuiabá) recebeu, neste sábado (6), os serviços…

10 filmes que vão fazer você pensar (e repensar)

Alguns filmes realmente nos tiram do lugar comum, impulsionando nossas reflexões, e, às vezes, traçando…